Em pé, (a partir da esq).: Mateus Frozza e Reinaldo Scolari. Sentados (a partir da esq.): Amadeu Rodrigues, Amauri Colvero e James Pizarro
Foto: Renan Mattos (Diário)
Você pode até não gostar de futebol, mas é inevitável que alguma repercussão acerca da Copa do Mundo não respingue no cotidiano de quem quer que seja. Isso porque o contexto do campeonato não diz respeito apenas ao cenário esportivo, mas acompanha transformações sociais, políticas econômicas e culturais, sejam elas doces nostalgias ou lembranças de vergonhosos períodos. São músicas, bordões, crises políticas ou objetos de colecionadores, que trazem à tona a vivência de cada época.
A propósito: quem lembra onde estava no dia da comemoração do Tetra? Quem era o prefeito à época do Bi? Que reflexos emergiram do Tri?
Você sabia que o conhecido Ginásio Oreco, no Bairro Tancredo Neves, é uma homenagem ao jogador Waldemar Rodrigues Martins, conhecido por Oreco. Nascido em Santa Maria, foi reserva (de Nilton) no primeiro título da Seleção. Também jogou no Inter-SM, na década de 1950, e no Corinthians Paulista até 1965. Jornalista, escritor de sete livros e profundo conhecedor do futebol santa-mariense, Candido Otto da Luz dedicou um capítulo do Alamanaque dos 80 anos do Inter-SM ao atleta. Candido, que tinha apenas 4 anos no primeiro título da Seleção raspou a cabeça como promessa no Bi, quatro anos depois. Já sua recordação do Tri foi a comemoração:
- Assisti no apartamento de um amigo. Bebemos, comemoramos e, supersticiosos, combinamos de assistir aos jogos no mesmo apartamento. Depois da final, saímos para a rua, juntando-nos às centenas de pessoas na Saldanha Marinho - relembra Candido.
Professor de História do Futebol na Universidade Franciscana (UFN), Alexandre Maccari informa que, nessa mesma Copa, em 1970, houve "o uso" da seleção brasileira para simbolizar o espírito patriótico ufanista, além dos lemas "Pra Frente Brasil" e "Brasil, ame-o ou deixe-o". Nesse período, houve censura e tortura contra os que não concordavam com o regime militar.
Anos antes, no primeiro título, em 1958, o arquiteto e pesquisador da história de Santa Maria Humberto Gabbi Zanatta descreve uma cidade que gozava de desenvolvimento:
- A cidade vivia o ano de seu centenário. Existiam a FIC e a Facem - hoje congregadas na UFN - e a Faculdade de Ciências Econômicas, dos Irmãos Maristas. O curso de Medicina estava em andamento (na futura UFSM). Havia um clima de entusiasmo embalado pela Bossa Nova, e a construção de Brasília. Leonel Brizola, em campanha, teve apoio de Santa Maria, assim como o deputado federal Fernando Ferrari. Acompanhei essa copa pela Rádio Guaíba, na transmissão de Mendes Ribeiro. A emoção se dava pela narração, quase sempre intercortada pela vibração do narrador e pela imaginação da gente.
Gilmar Niederaurer, professor de história, que lecionou nas Escolas Margarida Lopes e Cícero Barreto, elegeu, enfaticamente, cinco fatos da cidade, um para cada vitória do Brasil: em 1958, a Fundação do Arquivo Histórico; em 1962, o filme Os Abas Largas; em 1970 a fundação do Hospital Universitário (Husm); em 1994, a 1ª Edição da Feira do Cooperativismo; e, em 2002, a fundação do Diário.
Nessa reportagem, além de informações dos pesquisadores acima, relatos diversos de cinco moradores do Coração do Rio Grande: James, Amuri, Amadeu, Matheus e Reinaldo compartilham memórias que se misturam aos demais acontecimentos da cidade.
1958: 1º TÍTULO MUNDIAL VEIO NO CENTENÁRIO DE SANTA MARIA
Foto: Renan Mattos (Diário)
"Lembro muito bem daquele jogo. Foi a estreia de Pelé, mas, o mais importante, foi Garrincha, que já fazia espetáculos em campo. A Suécia foi quem fez o primeiro gol. Aí, o Didi, que tinha o apelido de Folha Seca, pela forma que a bola ia quando ele chutava, colocou a bola debaixo do braço, pediu calma, e viramos (a partida). Já Vicente Feola, técnico, ficava dormindo sentado no banco, entre os reservas, durante os jogos. A imprensa toda comentava isso. Ele só acordava nos gols. Foi na Rua Silva Jardim, número 2.431, que acompanhamos o jogo junto da família e da vizinhança. Foi um ano lindíssimo e muito importante, pois era o centenário de Santa Maria".
O relato acima é do professor aposentado James Pizarro. Santa-mariense com orgulho, em uma sala do apartamento onde mora junto da esposa, Vera, na Galeria do Comércio, Pizarro fala sobre a partida que consagrou o primeiro título mundial da seleção brasileira, ao mesmo tempo em que segura nas mãos o livro comemorativo aos 100 da cidade, segundo ele, uma relíquia. A edição foi organizada pela Câmara de Vereadores e pela prefeitura de Santa Maria ainda na década de 1950.
Em entrevista ao Diário para esta reportagem, também relembrou de espetáculos e peças teatrais da época, com destaque para a Escola Leopoldo Fróes, criada por Edmundo Cardoso. Nesse período, Cerejinha, conhecido como "Cardeal de Ouro", já fazia sucesso nas rádios com músicas nativistas. À iminência da Copa, as casas e estabelecimentos se enfeitavam de verde e amarelo, e pessoas vestiam roupas das mesmas cores, fabricadas por costureiros locais. Não havia, pois, camisetas com logos e etiquetas.
- Eram camisetas fabricadas por aqui mesmo, não existia essa coisa de "camiseta oficial" e royalties. Eram outros tempos, em que os jogadores ganhavam pouco. A prova é que a maioria deles morreu pobre. Tudo mudou. Quando íamos imaginar que um presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) seria preso? - questiona Pizarro.
No dia do título da Seleção, o jornal A Razão de 29 de junho de 1958 trouxe uma enquete ouvindo funcionários da Justiça e da prefeitura em relação ao resultado do jogo. Entre eles, o palpite do então prefeito Vidal Castilho Dania (PTB): "Confio plenamente no trabalho da rapaziada brasileira, que vem se portando como patriotas. Técnica, garra e, acima de tudo, uma vontade extraordinária de vencer. Vai jogar Vavá, a este caberá a conquista dos dois tentos brasileiros. Os suecos marcarão um golo (jogando em casa)."
No dia seguinte, a manchete estampava: "Brasil Campeão do Mundo." A Seleção conquistava o título ao vencer a Suécia por 5 a 2.
A Seleção
A conquista ajudou a apagar o fantasma do vice-campeonato de 1950 e o fracasso em 1954. Também marcou o surgimento da dupla Garrincha e Pelé para o mundo. A Seleção venceu cinco das seis partidas, marcou 16 gols e sofreu apenas quatro. Na final, o Brasil venceu a Suécia, dona da casa, por 5 a 2. Pelé entrou para a história como o jogador mais jovem a marcar em uma Copa do Mundo. Ele tinha apenas 17 anos e 239 dias ao fazer gol contra o País de Gales.
Escalação:
- Gilmar
- Djalma Santos
- Orlando
- Bellini (capitão)
- Nilton Santos
- Zito
- Didi
- Zagallo
- Garrincha
- Vavá
- Pelé
- Técnico - Vicente Feola
1962: O GRITO DE BI ECOOU ALTO CIDADE AFORA
Foto: Renan Mattos (Diário)
Ele nunca foi lá um fanático por futebol e pouco lembra de detalhes técnicos de Seleção, cuja final, em 1962 assistiu junto de um amigo em uma garagem, que hoje, já não existe. Mas, a memória do aposentado e técnico em rádio há cerca de 60 anos Amauri Colvero, 77 anos, é impecável quando conta, com riqueza de detalhes, a atmosfera santa-mariense no bicampeonato do Brasil.
Segundo ele, a cidade praticamente parava em dias de partida da Seleção, e só se falava em futebol. O rádio já dividia espaço com a televisão, que poucos tinham. A procura por um aparelho para ouvir jogos era grande. À época, Colvero ainda era solteiro e recém havia saído do quartel para trabalhar na Central de Máquinas. Na cidade, as emissoras eram a Imembuí e a Santamariense.
Durante a Copa, o aposentado lembra que a qualidade da transmissão não era boa, pois se estabelecia por ondas curtas, direto do Chile. Esse sistema possuía muita oscilação no áudio e no sinal:
- A voz do narrador afinava e engrossava com bastante frequência. O cara que transmitia dizia: "transmitindo com transmissor Philips SSB" - conta.
Pelo Calçadão, as lojas colocavam alto-falantes na frente, e a primeira quadra fechava de tanta gente que se reunia para ouvir o futebol. Na loja onde Colvero trabalhava, um dos modelos de rádio mais vendidos era o Tandard Electric, muito comprado por ferroviários.
Mas, nem todo mundo era um bom cliente. Um fato pitoresco contado por Colvero, acontecia quando o dono da Central de Máquinas, Mário Saccol, ia ao café da Galeria Chami. Nesse meio-tempo, chegavam à loja pessoas que diziam: "o seu Mário mandou buscar um rádio para escutar o jogo". Os funcionários entregavam o aparelho, porém, quando Saccol retornava, descobriam que era mentira, e o rádio nunca mais era devolvido. Isso teria acontecido diversas vezes.
A vitória brasileira sobre a Tchecoslováquia "transformou as ruas centrais da cidade em um enorme salão de festas". Essa foi a frase que estampava o jornal A Razão um dia após a vitória. Naquele ano, Miguel Viero era o prefeito municipal pelo PSD. O jornal também informou não ter havido tumulto na cidade, apenas "casos de embriaguez excessiva e instintos sem controle". Em outra notícia, informava que um maquinista da viação férrea machucou os dedos depois que um foguete estourou na mão. Atendido no Hospital de Caridade e voltando a si, o paciente teria perguntado: "Como está o jogo, doutor?".
Outro fato, esse contado por Colvero, é que a loja dos Irmãos Ugalde tinha um sistema de som que tocava músicas durante o dia. Havia caixa de som em cima da marquise do estabelecimento e no coreto da Praça Saldanha Marinho. E, acima da Estação Férrea, onde ficava a Praça 810 (hoje, ponto de táxi), tinha até uma corneta:
- Antes do jogo, era um silêncio. Parecia que não tinha mais ninguém morando na cidade. Quando o Brasil ganhou, o som era alto, e todos ouviam Encheram a carroceria de caminhões com as pessoas e andaram por toda a cidade, festejando com bandeiras e gritos.
A Seleção
Na única Copa do Mundo no Chile até hoje, em 1962, o Brasil igualava-se em títulos com o Uruguai, e também repetia o feito da Itália, até então única bicampeã consecutiva. Foi a última vez que uma seleção venceu dois mundiais em sequência. Essa era para ser a Copa do auge do Rei Pelé, que já havia sido destaque em 1958. No entanto, ele se machucou na segunda partida. Foi, então, que o craque das pernas tortas, o maior jogador da história do Botafogo, Garrincha, tomou conta da Seleção e se tornou o melhor jogador da competição. A campanha foi impecável. Foram cinco vitórias e um empate, contra a antiga Tchecoslováquia, que acabou derrotada depois, na final, por 3 a 1, com gols de Amarildo, Zito e Vavá.
Escalação:
- Gilmar
- Mauro
- Zito
- Zózimo
- Djalma Santos
- Didi
- Nilton Santos
- Zagallo
- Garrincha
- Amarildo
- Pelé
- Vavá
- Técnico - Aymoré Moreira
1970: CONVERSAS AFIADAS À ESPERA DO TRI
Foto: Renan Mattos (Diário)
Considerado o barbeiro em atividade mais antigo de Santa Maria, Amadeu Rodrigues, 76 anos, já era casado, tinha dois filhos e conquistava fiéis clientes na Barbearia Venito, em 1970. O salão, que existia desde 1951 mas que, dentro da Galeria do Comércio estava instalado desde 23 de abril de 1962, ia além dos cuidados com a estética dos homens da época.
No ano do tricampeonato do Brasil, na Copa do México, o estabelecimento era ponto de encontro de palpiteiros e fanáticos da seleção verde e amarela. Os aparelhos de televisão em preto e branco a válvula já eram uma realidade para muitos santa-marienses, mas na Venito, durante as partidas da Copa, era pelo rádio que todos acompanhavam o futebol pela Guaíba.
O público, hegemonicamente masculino, saía do Café Cristal ou de um café da Galeria Chami e parava na barbearia. Por ali, o barbeiro diz que, enquanto afiava as navalhas, "ouvia mais coisas que padre em confessionário."
Amadeu recorda, entre outros fatos, de um pôster da Seleção, que ficava na parede, mas, por ter a marca de uma empresa de cigarros, teve de ser retirado do local.
Aquele ano também culminou com a inauguração do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) e com Luiz Alves Rolim Sobrinho (MDB) à frente da prefeitura. Santa Maria, bem como o restante do país, vivia os Anos de Chumbo, e o movimento estudantil da cidade se posicionava politicamente contra a ditadura. No cenário nacional, corria o slogan "Brasil, ame-o ou deixe-o", bem como a propaganda governamental era embalada pelo hit "90 milhões em ação, pra frente, Brasil." O governo era encampado pelo ditador Emílio Garrastazu Médici.
Na edição de 19 de junho de 1970, A Razão, o jornal local, repercutia a mesma proposta no título de uma matéria (figura acima). Já a publicação da vitória informava que a comemoração do título foi dentro dos clubes.
- Era época dos militares. Tinha os contras e os a favor. Mas eu só trabalhava, não dava para se meter - comenta Amadeu.
Sobre esporte, o barbeiro lembra de uma certa preocupação que assombrou a seleção brasileira, ainda que essa fosse a favorita. Ele se refere à substituição de treinador:
- Trocaram o Saldanha (João Saldanha), que vinha bem como técnico, e isso assustou todo mundo. Dizem que foi coisa do Médici. Aí, acabou assumindo o Zagallo, meio desacreditado. Mas, os jogadores eram muito bons. Tinha o Jairzinho. No fim, deu Brasil. Foi uma euforia a comemoração. A final, ouvi de casa, mas o resto dos jogos, tudo aqui dentro da barbearia. É daqui que recordo a maioria das coisas da Copa.
A Seleção
Se, na Copa de 1962, Pelé não pôde mostrar que era, de fato, o melhor jogador do mundo, em 1970, no México, no seu último Mundial, não ficaram dúvidas sobre isso. Nessa Copa, aos 29 anos, o Rei, junto de uma seleção fantástica, mostrou o melhor do futebol brasileiro e marcou aquela geração como a melhor de todos os tempos. Foi o tricampeonato brasileiro e a posse definitiva da Taça Jules Rimet, que, depois, seria roubada. Foram seis vitórias com autoridade. Entre elas, a mais magra, o 1 a 0 sobre a então campeã mundial, a Inglaterra, que venceu em casa, em 1966, com um futebol pragmático que caracterizou os ingleses por muito tempo, abusando da bola aérea. Mas, sem dúvida, a vitória mais marcante foi na final. Na briga para ver quem ficaria com o Tri, um massacre sobre a bicampeã Itália por 4 a 1, com aquele inesquecível gol do "capita" Carlos Alberto Torres após passe de Pelé, que ganhou a sua terceira Copa, fato até hoje único para um jogador.
Escalação
- Félix
- Carlos Alberto (capitão)
- Piazza
- Brito
- Everaldo
- Clodoaldo
- Gérson
- Jairzinho
- Rivellino
- Pelé
- Tostão
- Técnico - Zagallo
1994: TETRA RENOVOU A ESPERANÇA EM UMA GERAÇÃO
Foto: Renan Mattos (Diário)/
Professor da Universidade Franciscana (UFN) Mateus Frozza, hoje, com 34 anos, assistiu a Mazinho e Romário correrem para o lado de Bebeto e, com ele, acompanhar o gesto "embala nenê" para comemorar o gol na Copa do Mundo de 1994. Por anos, Mateus guardou a camisa 7, do ídolo Bebeto.
As partidas do Brasil daquele ano eram assistidas na casa de um amigo na Rua Castro Alves, no Bairro Perpétuo Socorro. A cada vitória, a gurizada tomava conta da rua:
- Assisti com parentes e amigos, no Bairro Perpétuo Socorro, onde cresci torcendo pelo Grêmio e pelo Periquito (Riograndense). Completávamos o álbum de figurinhas das seleções. As ruas eram enfeitadas, e os encontros para assistir aos jogos eram marcados por telefone residencial. Estávamos em uma época pré-celular e de computador sem internet.
No centro de Santa Maria, a então Rua 24 Horas era uma das principais atrações, apesar de muito comparada com a de Curitiba e de sofrer críticas por não funcionar, efetivamente, 24 horas do dia. No campo político, o prefeito José Haidar Farret (PDS), em seu segundo mandato, enfrentava protestos estudantis contra o aumento da passagem em plena troca de moeda. É que o ano de 1994, especificamente o mês de junho, também ficou marcado pelo começo do Plano Real.
Mateus, filho de uma bancária e irmão de uma contador, ainda não imaginava se tornar economista, mas, as lembranças mais vivas, remetem ao otimismo e afinidade com a futura profissão:
- O ano de 1994 tinha tudo para ser ruim, triste e doloroso. Aliás, nunca mais os domingos foram os mesmos. A morte precoce do ídolo Ayrton Senna abalou.Foi como se os brasileiros tivessem perdido um irmão. A Copa representava a esperança e a redenção da Seleção, que ficou 24 anos sem título mundial. Na economia, no meu entendimento, ocorreram mudanças históricas para o Brasil e para Santa Maria. O plano Real possibilitou a tão sonhada estabilidade nos preços. Poderíamos parcelar, ter cartão de crédito e abandonar o hábito de ter despensa em casa. Lembro, bem daquela época, quando um ministro chegou a afirmar :"Todo brasileiro vai comer frango e tomar iogurte".
Após 24 anos de jejum, a Seleção novamente vencia uma Copa do Mundo. A final, contra a Itália, marcava o encontro de países até então tricampeões: quem vencesse conquistaria a hegemonia de títulos mundiais. Foi a primeira decisão da história a ir para os pênaltis.
A Seleção
O Brasil, visto com desconfiança no começo da competição, foi ganhando força com o decorrer das partidas. Um futebol pragmático deu a oportunidade para que talentos individuais emergissem. O destaque ficou para Romário, o Baixinho, com 5 gols, e Bebeto, seu companheiro de ataque, com 3 gols. Uma das partidas mais memoráveis da campanha foi o 3 a 2 diante da Holanda, nas quartas de final.
Escalação
- Taffarel
- Jorginho
- Aldair
- Márcio Santos
- Branco
- Dunga (capitão)
- Mauro Silva
- Mazinho
- Zinho
- Bebeto
- Romário
- Técnico - Carlos Alberto d
2002: NA TRAJETÓRIA DO PENTA, UM SOBRENOME DE PESO
Foto: Renan Mattos (Diário)
Em 2002, o ano que coincidia com a fundação do Diário de Santa Maria, também proporcionava aos amantes do futebol uma transmissão televisiva de grande qualidade. Naquela Copa, ocorreram os primeiros testes de imagem em alta definição, e o comércio local aproveitava para aquecer as vendas naquele gelado junho de 16 anos atrás. Enquanto isso, outro empreendimento, o grande e prometido Royal Plaza Shopping, ainda era promessa e não passava de uma construção na Avenida Dores.
No cenário nacional, Lula concorria pela quarta vez à presidência, e, em Santa Maria, Valdeci Oliveira era prefeito pelo PT. Enquanto isso, o sucesso da seleção brasileira era confiado a um gaúcho. Aliás, a habilidade individual de cada um dos jogadores e a força que emergiu de um elenco unido em 2002 eram praticamente unânimes. Mas, para uma grande família do Bairro Urlândia, Região Sul de Santa Maria, um fator sempre foi inquestionável desde o primeiro jogo: a atuação do treinador Luiz Felipe Scolari, o Felipão.
É que, por ali, muitos moradores levam o mesmo sobrenome do comandante. Até as duas ruas onde eles moram têm o nome de Agostinho Scolari e José Scolari. Aliás, o parentesco, ainda que distante, é sempre referido com o orgulho.
No ano do pentacampeonato do Brasil, as casas foram enfeitadas, e os jogos, assistidos por cerca de 20 parentes, o que incluiu irmãos, cunhados, filhos, netos e sobrinhos. Independemente da hora do jogo, a junção começava cedo, e a quantidade de bebida e comida refletia os costumes de uma exagerada família italiana. Contam eles que cada um levava um espeto. A abundância gastronômica garantia churrascadas de horas a fio. Sagu, pudim e torta de bolacha nunca faltaram, bem como cerveja samba e caipira. Quando lembram do título, um dos cunhados entrega o outro com bom-humor: "Esse aí nem lembra direito, tive de levá-lo para casa, porque encheu a cara comemorando".
Nas duas "ruas Scolari", moram sete dos nove irmãos daquela família: Eunice, Eronice, Enilda, Eliane, Roberto, Carlos Alberto e Reinaldo. O último foi apelidado de "Felipão", por ter semelhança com o técnico.
- Até hoje, o pessoal me acha parecido, na época era mais. Isso que não uso bigode. Na verdade, o meu avô era primo do avô do Felipão. Eu fico feliz com a comparação. A gente sempre se junta para torcer, mas, naquele ano, por causa do técnico e do título, a festa foi maior. Pena não fotos para registrarmos aqueles momentos - conta Reinaldo Scolari, 59 anos.
A Seleção
O Penta, sonho adiado em 1998 com a melancólica derrota para a França, finalmente chegou em 2002, na primeira Copa no continente asiático. Com o renascimento de Ronaldo Fenômeno, a família Scolari fez uma campanha impecável. Com sete vitórias em sete jogos, o Brasil venceu a Alemanha por 2 a 0, com autoridade, na partida final.
Ronaldo foi o artilheiro da competição, com 8 gols. Na Copa seguinte, marcaria mais três gols, que, somados aos tentos das duas copas anteriores, colocaram o brasileiro na artilharia histórica em Copas do Mundo, com 15 gols. Seria ultrapassado apenas em 2014, por Klose, centroavante da seleção alemã.
Escalação
- Marcos
- Lúcio
- Edmílson
- Roque Júnior
- Cafú (Capitão)
- Gilberto Silva
- Kléberson
- Roberto Carlos
- Ronaldinho
- Rivaldo
- Ronaldo
- Técnico - Luiz Felipe Scolari (Felipão)
EXPEDIENTE:
Reportagem: Pâmela Rubin Matge
Fotos: Renan Mattos
*Colaboraram Felipe Backes e Naiôn Curcino